domingo, 27 de junho de 2010

A carta do marítimo de Olhão


Tratando-se uma das peças mais emblemáticas da "fala" de Olhão, terra ímpar nas história e cultura algarvias, publica-se a famosa carta que, tal como a foto, foi retirada do blogue APOS, um excelente trabalho de António Paula Brito em prol da sua terra.

"Farcisca
À díase, do mar dâse Berlêngase, a sete bráçase e mêa d' água, embararem-se-m' âze grósêrase, cande vê de lá o mariola do tê pai e me dezeu assim :
- Ó hôm!!! tu ése um montanhêre, hôm! Tu fázez um grande salcrafice em virese ó mar !!!...
- Má o que é que você me dize, hôm?!
- Digue-te iste e nã casase ca 'nha filha !
Alha-me-ze Farcizeca ! ê cá ântese cria cu tê pai me dèsse doi ó trê estragaços da cara, q'êl me dessesse aquil que tá ali à vizete de gente!

Viémese pá terra e a companha do barque nã falava doutra coisa.
Nísete, vê de lá o mane Zé Xaveca e me dezeu assim:
-Mó, ó móce! Na te zánguese, ná t' arráleze, móce! Taze-te arralar?
- Atão nã m´ êde arralar?
- Nã te ralese rapá, se nã casáreze c'a filha dele casaze cá c'a minha hôm!


É p'a que vêisase, Farcizeca, quê cá inda tenhe pretendêntase. Tu pensase cú tê pai é o Prencêse D.Carlos? A tua mãi a Rainha D. Imélia e os tês ermãos os Enlefantesinhos ?
Alhamese ! ele é mai brute cá mãi dos penhêrese do mane João Luice.

Dêxa lá cuma viage quê face ó mar de Larache , ganhe o denhêre às braçadase. Compre um chapé de côque, uma vengala, botas de rengedêra com tapadôiraze, passe a barlavante da tu porta e arraste os peses cóm' um gal. Tu vêse-me e falase-me, mai ê cá veje-te e nã te fale.

Mai, sê cá sentir alguma coisa do mê côrpe, ai 'nha mãe!!! Digue logue que forem vocêiaze que me fizerem mal! Qu'ê cá nã quér que vócêiaze andem a falar mal de mim p'êssese tânquese e rebêrese!

Ê bem sê que tu tenz' uma linda máineca de quez'tura, mai ê cá na sei s'èze tan prefêta de mãoze come dizeze.

Na m'arrale! Cá só quer que tu t'allêmbreze dos mês doze brenhoisinhes (ponha lá iste da carta,mano Manel, qu'ela já m'entende).

Digue tiste e nã memporta com o pôrque do tê pai.
Perdoi a arção.

Embróise"

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