Tendo prometido voltar ao assunto, aqui vão mais alguns letreiros curiosos, da mesma fonte, sobre:
- Quere noz ou dedo?
O que isto nos arripia agora, cercados como estamos de pulverizadores, pincéis, máquinas eléctricas, cadeiras móveis, alúmens,, cosméticos e essências. A banha, o dedo, o mocho de assentar, em tendas infectas, parecem-nos agora sucursais da Inquisição.
O barbeiro, assim como tinha a guitarra acantoada na loja, em que dedilhava, à porta, na míngua de fregueses, tinha fora dela erguida a vara pintada de azul e branco, simbolo das ataduras da sangria, e quanta vez o frasco das sanguessugas a-par da mecha de cabelo e da bacia de sangrar golpeada na aba.
Lá dentro o mesmo utensílio, feito no Rato ou na Bica do Çapato, decorado com flores, aguardava entre as toalhas de franja, o freguês de qualidade ou a chamada a casa do fidalgo que havia mister de pontear de vermelho a polpa do braço.
Mestre lhe chamavam uns; oficial, outros. António Maria Couto fez larga colheita de letreiros nesta classe, cujo pitoresco tem resistido a tudo.
O barbeiro é sempre uma figura típica. No seu tempo - a avaliar pelo que diz o autor de Schetches of portuguese Life and Manners, Costume and Character - devia de havê-los dos bons.
Corramos a lista dos que estropiaram as taboletas, e mereceram o reparo do Taful.
Primeiro três provas das multiplas aptidões dêstes artistas.
A Santa Luzia estava estabelecido
Quanto a bichas, a variedade anunciada era considerável. Um barbeiro, na casa dos Padres Vicentes, junto à Praça de Figueira, tinha
Para quem tivesse pressa havia, na travessa do Arco do Cego, um
Como sangradores reclamavam-se alguns. Havia, defronte do Hospital de S. José, entre as insígnias do ofício, o letreiro de
À Lapa, o barbeiro José Moreira Duarte levantava espinhelas caídas; à Guia era a
O dentista Meirel, que tinha na taboleta, na sua residência, à Lapa:
Quero ainda acrescentar o letreiro de um guitarrista que havia na rua de Inveja. Dizia assim:
*
* *
"Barbeiros, Dentistas, Sangradores e Guitarristas! Chegamos a este capítulo! Não se admire leitor da mistura. Era raro o barbeiro que não fosse sangrador e dentista, como era raro o que não tocasse guitarra. A guitarra era tão própria da profissão como a noz que o freguês metia na boca para opôr a bochecha às carícias da lâmina afiada, se êste não preferia o dedo respondendo à pergunta sacramental:- Quere noz ou dedo?
O que isto nos arripia agora, cercados como estamos de pulverizadores, pincéis, máquinas eléctricas, cadeiras móveis, alúmens,, cosméticos e essências. A banha, o dedo, o mocho de assentar, em tendas infectas, parecem-nos agora sucursais da Inquisição.
O barbeiro, assim como tinha a guitarra acantoada na loja, em que dedilhava, à porta, na míngua de fregueses, tinha fora dela erguida a vara pintada de azul e branco, simbolo das ataduras da sangria, e quanta vez o frasco das sanguessugas a-par da mecha de cabelo e da bacia de sangrar golpeada na aba.
Lá dentro o mesmo utensílio, feito no Rato ou na Bica do Çapato, decorado com flores, aguardava entre as toalhas de franja, o freguês de qualidade ou a chamada a casa do fidalgo que havia mister de pontear de vermelho a polpa do braço.
Mestre lhe chamavam uns; oficial, outros. António Maria Couto fez larga colheita de letreiros nesta classe, cujo pitoresco tem resistido a tudo.
O barbeiro é sempre uma figura típica. No seu tempo - a avaliar pelo que diz o autor de Schetches of portuguese Life and Manners, Costume and Character - devia de havê-los dos bons.
Corramos a lista dos que estropiaram as taboletas, e mereceram o reparo do Taful.
Primeiro três provas das multiplas aptidões dêstes artistas.
A Santa Luzia estava estabelecido
*
José Barbosa da Costa Dentista Luzitano, sangrador e barbeiro aprovado
*
Na Travessa da Palha lia-se a seguinte a seguinte legenda*
Bichas de boa casta e pegadiças Barbear, corta cabellos, faz barbas por cazas particulares, sangra e aplica remédios
*
e, noutro ponto da cidade:*
Joaquim António da Silva Ribeiro Mestre barbeiro de pentear, e barbear, e de amollar toda a qualidade de ferramenta viveiro de bichas
Tho shave dress the hair
*
O ofício de amolador também era acumulado pela profissão. Na Bica do Çapato lia-se*
Aqui samolla*
e era um barbeiro também.
Quanto a bichas, a variedade anunciada era considerável. Um barbeiro, na casa dos Padres Vicentes, junto à Praça de Figueira, tinha
*
bixas ferozes e pordentes(!)
*
para todos os paladares; outro, ao fim da Tapada de Alcântara, anunciava pleonàsticamente*
Bixas para doentes
*
um terceiro,aos Olivais, reclamava*
Bixas do Rio*
e ainda havia outro que possuía a seguinte especialidade:
*
Bixas excelentíssimas para Senhoras
*
que poderia ter, cortêsmente, modificado em*
Excelentíssimas bichas para excelentíssimas Senhoras
*
Galante barbeiro!Para quem tivesse pressa havia, na travessa do Arco do Cego, um
*
Barbeiro expedito
*
um que era bom e aceado ao Arco da Graça, outro que dizia pentear e fazer a barba separado (nada de misturas), um que fazia crescentes para os calvos, no Rossio, e outros que, àparte as barbas, vendiam pós de Lubeck, vinho do Porto e pomadas de cheiro.Como sangradores reclamavam-se alguns. Havia, defronte do Hospital de S. José, entre as insígnias do ofício, o letreiro de
*
Sangrador iminente
*
de cuja "iminência" livrasse Deus os necessitados, e outro que pertencia a um barbeiro-dentista-cirurgião que vendia as "pílulas de família" que se faziam no Porto.À Lapa, o barbeiro José Moreira Duarte levantava espinhelas caídas; à Guia era a
*
Assistencia do famoso
Dentista Pires
*
como dizia um painel pôsto à janela com immodesta expressão; na rua dos Correiros era o*
Dentista Estrange
*
a quem se faltavam letras não faltava naturalmente a freguesia; e perto de S. Paulo o "professor Dentista João Rodrigues da Cruz", que anunciava, como chamariz, ser sobrinho do defunto Manoel da Cruz. Ex*elente recomendação.O dentista Meirel, que tinha na taboleta, na sua residência, à Lapa:
*
Tira dentes
Meirel
E acautella com remédios os
combalidos
*
mereceu a Bocage o seguinte improviso, feito a um seu consulente:*
Do Meirel formas querela
Porque os dentes te dispensa?
Não t'os tirou por doença
Tirou-t'os só por cautela
Bem atalha quem bem pensa
*
O desgraçado apenas tomara a mistela do Meirel ficara logo desdentado.Quero ainda acrescentar o letreiro de um guitarrista que havia na rua de Inveja. Dizia assim:
*
Fabrica de cordas de viola e de rabeca para rabecam, e bordões para chapéus, e de todas as côres, e guitarrras
*
Outro no Bairro Alto, era desta forma:*
Tocador de guitarra,
dá licções por dinheiro
a todos que o convócão
*
E foi o que achei nos Letreiros Célebres à conta desta verbosíssima classe."*
* *
Voltarei à carga com outros letreiros curiosos.
Saudações.
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