sábado, 12 de junho de 2010


Tendo prometido voltar ao assunto, aqui vão mais alguns letreiros curiosos, da mesma fonte, sobre:

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"Barbeiros, Dentistas, Sangradores e Guitarristas! Chegamos a este capítulo! Não se admire leitor da mistura. Era raro o barbeiro que não fosse sangrador e dentista, como era raro o que não tocasse guitarra. A guitarra era tão própria da profissão como a noz que o freguês metia na boca para opôr a bochecha às carícias da lâmina afiada, se êste não preferia o dedo respondendo à pergunta sacramental:
- Quere noz ou dedo?
O que isto nos arripia agora, cercados como estamos de pulverizadores, pincéis, máquinas eléctricas, cadeiras móveis, alúmens,, cosméticos e essências. A banha, o dedo, o mocho de assentar, em tendas infectas, parecem-nos agora sucursais da Inquisição.
O barbeiro, assim como tinha a guitarra acantoada na loja, em que dedilhava, à porta, na míngua de fregueses, tinha fora dela erguida a vara pintada de azul e branco, simbolo das ataduras da sangria, e quanta vez o frasco das sanguessugas a-par da mecha de cabelo e da bacia de sangrar golpeada na aba.
Lá dentro o mesmo utensílio, feito no Rato ou na Bica do Çapato, decorado com flores, aguardava entre as toalhas de franja, o freguês de qualidade ou a chamada a casa do fidalgo que havia mister de pontear de vermelho a polpa do braço.
Mestre lhe chamavam uns; oficial, outros. António Maria Couto fez larga colheita de letreiros nesta classe, cujo pitoresco tem resistido a tudo.
O barbeiro é sempre uma figura típica. No seu tempo - a avaliar pelo que diz o autor de Schetches of portuguese Life and Manners, Costume and Character - devia de havê-los dos bons.
Corramos a lista dos que estropiaram as taboletas, e mereceram o reparo do Taful.
Primeiro três provas das multiplas aptidões dêstes artistas.
A Santa Luzia estava estabelecido

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José Barbosa da Costa Dentista Luzitano, sangrador e barbeiro aprovado

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Na Travessa da Palha lia-se a seguinte a seguinte legenda

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Bichas de boa casta e pegadiças Barbear, corta cabellos, faz barbas por cazas particulares, sangra e aplica remédios

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e, noutro ponto da cidade:

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Joaquim António da Silva Ribeiro Mestre barbeiro de pentear, e barbear, e de amollar toda a qualidade de ferramenta viveiro de bichas

Tho shave dress the hair

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O ofício de amolador também era acumulado pela profissão. Na Bica do Çapato lia-se

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Aqui samolla*

e era um barbeiro também.
Quanto a bichas, a variedade anunciada era considerável. Um barbeiro, na casa dos Padres Vicentes, junto à Praça de Figueira, tinha

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bixas ferozes e pordentes(!)

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para todos os paladares; outro, ao fim da Tapada de Alcântara, anunciava pleonàsticamente

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Bixas para doentes

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um terceiro,aos Olivais, reclamava

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Bixas do Rio*

e ainda havia outro que possuía a seguinte especialidade:

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Bixas excelentíssimas para Senhoras

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que poderia ter, cortêsmente, modificado em

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Excelentíssimas bichas para excelentíssimas Senhoras

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Galante barbeiro!
Para quem tivesse pressa havia, na travessa do Arco do Cego, um

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Barbeiro expedito

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um que era bom e aceado ao Arco da Graça, outro que dizia pentear e fazer a barba separado (nada de misturas), um que fazia crescentes para os calvos, no Rossio, e outros que, àparte as barbas, vendiam pós de Lubeck, vinho do Porto e pomadas de cheiro.
Como sangradores reclamavam-se alguns. Havia, defronte do Hospital de S. José, entre as insígnias do ofício, o letreiro de

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Sangrador iminente

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de cuja "iminência" livrasse Deus os necessitados, e outro que pertencia a um barbeiro-dentista-cirurgião que vendia as "pílulas de família" que se faziam no Porto.
À Lapa, o barbeiro José Moreira Duarte levantava espinhelas caídas; à Guia era a

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Assistencia do famoso

Dentista Pires

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como dizia um painel pôsto à janela com immodesta expressão; na rua dos Correiros era o

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Dentista Estrange

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a quem se faltavam letras não faltava naturalmente a freguesia; e perto de S. Paulo o "professor Dentista João Rodrigues da Cruz", que anunciava, como chamariz, ser sobrinho do defunto Manoel da Cruz. Ex*elente recomendação.
O dentista Meirel, que tinha na taboleta, na sua residência, à Lapa:

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Tira dentes

Meirel

E acautella com remédios os

combalidos

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mereceu a Bocage o seguinte improviso, feito a um seu consulente:

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Do Meirel formas querela

Porque os dentes te dispensa?

Não t'os tirou por doença

Tirou-t'os só por cautela

Bem atalha quem bem pensa

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O desgraçado apenas tomara a mistela do Meirel ficara logo desdentado.
Quero ainda acrescentar o letreiro de um guitarrista que havia na rua de Inveja. Dizia assim:

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Fabrica de cordas de viola e de rabeca para rabecam, e bordões para chapéus, e de todas as côres, e guitarrras

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Outro no Bairro Alto, era desta forma:

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Tocador de guitarra,

dá licções por dinheiro

a todos que o convócão

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E foi o que achei nos Letreiros Célebres à conta desta verbosíssima classe."

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Voltarei à carga com outros letreiros curiosos.

Saudações.

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