quinta-feira, 24 de junho de 2010

Poesia amável


Com dedicatória especial ao meu amigo Afonso Dias, aqui vai um poema da Hélia Correia

Só assim será poema

Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.

Que venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.

Só assim será poema
só assim será razaão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.

Que seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.

Que traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.

Só assim será poema
só assim será razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.


Hélia Correia é mais conhecida como ficcionista, mas que está incluida na Antologia Poesia 71, de Fiama Pais Brandão, lá isso está; que José Fanha a incluiu na sua Antologia Poética da Resistência, é verdade; que Mafalda Arnaut, Vitorino, Amélia Muje, Cristina Branco, Janita Salomé,José Jorge Letria e o GAC(Viva a Ronda da Alegria), entre outros a cantaram, é certo; que esteve quase a ganhar o prémio Camões pelo ecletismo da sua obra - ficção, poesia e teatro- também é verdade.

Do seu livro de poesia Pequena Morte/Esse Eterno Retorno - 1986

Contigo partilhei
os vários leitos dos amigos dispersos. Mesas, sumos,
os degraus mal ardidos do terror.
Contigo um pouco em cada aldeia, enquanto
nada de nós podia ultrapassar
as paredes dos outros que jaziam
no repouso ......

Que o Caló embeleze o post, que para isso não tenho arte.

Augusto Miranda

2 comentários:

  1. citando Cícero:
    "Os vinhos são como os homens: com o tempo, os maus azedam e os bons apuram."

    No meu caso vou-me apurando...

    Felgueiras

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  2. O Caló tanto embeleza
    Que a dama quese me entesa..

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