sábado, 17 de julho de 2010

Da ilha de São Vicente aos arredores da ilha de Faro

Caro Caló,

Acho que vou responder afirmativamente ao teu convite, pois parece-me um ambiente que também gostaria de frequentar. Estórias de taberna bem contadas dão-me um certo gozo.

Estes dias sopra na minha segunda intimidade - a que vem a seguir à Ivone, aos meus filhos e a meia dúzia de parentes de sangue - uma ventania mórbida, que urge escorraçar. Mas não sei como fazê-lo. Como não sei com rigor invocar o divino nem acredito piamente nos meteorologistas da alma para me ajudarem a afastar a tempestade, aguardo que passe com a possível serenidade. Na mesma semana faleceram por esta ordem três dos meus afins: primeiramente, na Bélgica, um amigo que ali se exilara e para sempre ficou - o Jorge Leiria conheceu-o em minha casa, em Alporchinhos -, logo a seguir a irmã conflituosa de um amigo do peito, mas que desde garoto me dedicava alguma atenção e, por último, o Toi Duarte, um castiço comerciante mindelense dos tempos do meu pai, com quem eu cultivava laços de afeição e de muito respeito - para mim, isto ainda existe. Como se não bastasse, o Pakey, que viste de passagem no ano em que vieste ao Mindelo, definha e esmorece, ora numa cama de hospital, ora em casa da Nanda, num estóico combate contra um monstro prolongado, que me tira o sono

De modo que estou para o vosso blogue um pouco como estava a novel criada do Chico Melo, no mês em que lhe morreram de uma assentada dois irmãos e uma cunhada. Farta de servir pratos de canja nos velórios, que em São Vicente ainda se fazem em casa dos defuntos, disse assim para o meu amigo Jorginho, filho do Chico: - Senhor Jorge,no fim do mês vou-me embora de casa do seu pai, pois desde que entrei ao serviço já lhe morreram 3 pessoas -, ao que o Jorginho retorquiu: - Ó menina, pensa bem no que vais fazer porque com este currículo não sei se arranjas tão depressa outro emprego.

Um abraço e... até ver.

JL

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