sábado, 13 de julho de 2013

Fado da Redenção

Como todas as grandes instituições, a Tertúlia Amável tem passado por momentos difíceis, a que não será alheio o seu alargamento a catorze, depois de um grupo fundador de quatro elementos. Se em qualquer família há sempre lugar para mais um, servir mais dez numa tertúlia, não se afigura tarefa fácil para um homem só, uma vez que a crise não permite admitir pessoal. Tal como na Comunidade Europeia, apesar da qualidade intrínseca dos elementos que foram entrando, o nosso Chairman of the Board vai lutando com dificuldades crescentes para manter a coesão no seio da comunidade. O Taberneiro, homem só, gestor de vasta gama de fluídos vinícolas, assente em rede nacional de pipeline, não descurando o seu "ouro púrpura e branco", é obrigado a um corrupio de copos de prova que lhe conferem alguma letargia depois de horas a fio de trabalho. Este estado não permite a atenção de que alguns dos confrades necessitam, seja no fornecimento de água fresca ao nosso cantor oficial do fado de Lisboa, seja de pequenas garrafas geladas com que o nosso engenheiro refresca a testa, quando precisa de espairecer na sequência desta ou daquela tirada do nosso actor principal. Tantas vezes o nosso grandalhão faz três pedidos para a mesma garrafa de Mexandon linha branca... O próprio Chairman of he Board chegou a estar ao balcão durante dez minutos, sem ter sido reconhecido pelo Taberneiro-mor, tal a letargia que dele se tinha apoderado. O saco encheu e na penúltima Tertúlia houve um súbito abandono do fadista oficial e do engenheiro, amargurados, em protesto pelo tratamento que não lhes foi dado, a que tinham direito.
Viveram-se momentos de tensão...
Na última tertúlia, tudo voltou à normalidade, com o esmerado serviço de bar a que fomos habituados, tendo tudo culminado com o "Fado da Redenção", com música do "Casei, tive um menino" e letra do Chairman of the Board. O Taberneiro esmerou-se na cantoria.
Aqui se regista essa brilhante letra.
Sou um homem novo
 

Bebi, fiquei passado
Andei tonto e muito à rasca
Mas o meu maior pecado
Foi esquecer que havia fado
Nessa noite cá na tasca

O Botas já exaltado
Refila como uma gralha
E eu ali encostado
Ao balcão a olhar pr’ó lado
E sem mexer uma palha

Já não quero vender copos
Já só quero meu copo cheio
Ponho a malta a passar fome
Ninguém bebe ninguém come
E pagam 12 metros e meio

Mas agora fiquem sabendo
Há um novo taberneiro
Que pouco ou nada consome
Não deixa ninguém com fome
E cobra pouco dinheiro

O Fernando já não refila
E volta a cantar o fado
E o Barranaço reguila
Nunca mais fica na fila
À espera de ser aviado

(Bis final)
E o Barranaço reguila
Nunca mais fica na fila
À espera de ser aviado